21.2.10

Memento


Não é que me tenha esquecido de ti. Eu nunca me esqueço de ti. Não. O meu terror é que nunca me esqueço de ti. Nem quando fechava os olhos com força e te dizia desaparece. E tu não desaparecias. E quando os abria. Tu lembras-te. Do meu mau feitio matinal. A voz agarrada ainda à nicotina e ao alcatrão da noite de ontem. E depois tu chegavas-te a mim. Sentavas-te na cama e arranhavas-me a cara com a tua voz baixinha baixinha. rise and shine. E depois eu já não fechava os olhos nem dizia. Não. Eu nunca me esqueço de ti. Nunca. Nem agora. Quando. Os miolos espalhados na areia seca do meu cansaço. Destas queixinhas pequeninas. Porque os meus dias ainda são isto. Esta procissão interminável de insignificâncias. E é por isso que eu nunca me esqueço de ti.

8.2.10

A espera

obiit 2003.02.08

Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

Sophia de Mello Breyner Andresen