[Andrea del Sarto - Estudo para O Baptismo do Povo] Eu subi e não havia nada. Nem luz nem trevas. Nem o velho de barbas negras. Depois aquele zumbido ensurdecedor. Como uma broca rasgando-me o cérebro. Sem dor. Porque ali não havia nada. Só a broca. Deve ser assim quando.
'Senhor'. Há alguém aqui. Quanto tempo quanto. Um dia dois. Trinta e. Os tijolos. E se for o tubarão. Si je vois un requin. Si vous voyez votre requin. E se aquilo que eu vi é. Não que eu tenha visto alguma coisa. Ali não havia nada. Nem luz nem trevas.
'Senhor'. Digo não digo chamo não chamo. Respondo não respondo. Há dias em que não sei que fazer. Que dizer. Se isto tudo acabasse. Mas acaba. Ai acaba. Só depende de mim. Afinal o que me falta. O nada. O tubarão. Mon requin. Chamá-lo.
'Senhor'. É ele. É o rato. O homúnculo. Não fui eu que o chamei. Foi ele é ele. Esta voz. Não. Sou eu. Louco. Consumatur. De que me serve o latim agora. Quando não dou por mim mesmo a chamar. Tinha de ser quando eu. Não não. Não estou pronto.
'Chamou?'
'Chamei. Acho. Não sei.'
'Chamou?'
'Era a minha voz e a minha boca. Mas eu não. Eu estava a sonhar. Não sei. Não vi ainda o meu tubarão nem. Nunca lhe aconteceu? Ouvir-se a si mesmo e pensar que é outra pessoa. Eu juro. Estava a dormir e havia uma rampa e uma escada. E depois eu subi. É incrível. Porque não parecia. Sabe.'
'Não sei. Repito: chamou?'
Que é isto. Chamei. Não chamei. Porque eu quero acabar com isto. Não sei. Se chamei. Se não. Se quero.