30.5.09

et adhuc tecum sum

[Caravaggio - David]

Agora dizem-me que morreste e eu não acredito porque ainda te cheiro o relento doce de leite fermentado. Cerveja. Cerveja rasca mas para mim era leite. Que te escorria da boca enquanto me fugias das mãos aflitas e me dizias hoje ficas comigo hoje não voltas para casa.

16.5.09

A queixa

[Philippe de Champaigne - Retrato de homem]

eu não tenho uma guerra para contar e os meus dias são esta torrente aborrecida de queixas e de dores banais

11.5.09

Epitaphius sextus

[Jan de Baen - Cadáveres dos irmãos De Witt]

Quando eu morrer também te vais pendurar na parede da casa mortuária ao lado de toda a gente que me passou pela vida e que não conseguiu encontrar uma razão válida para se baldar ao meu velório. Vais içar devagarinho os lábios e vais cuspir o teu tédio enquanto empurras com o olhar os ponteiros do relógio porque isto nunca mais acaba e amanhã ainda vais ter de me enterrar. E eu espero que o relento das minhas tripas mortas não te ofenda o nariz e não tenhas de ir buscar outra vez uma toalha.