10.12.05

Sísifo

[El Greco - Soplón]

Não era surpresa. Contei com isto desde o primeiro momento. Ainda assim, mantenho sempre a chama acesa. Não arrisco, e ainda bem. Não atinjo a felicidade, mas também não sofro. Anos de desilusão criaram crosta dura, difícil de quebrar. Arrisco pouco. Não, não arrisco nada. Já não me desiludo. Espero, fico sempre à espera, sem desesperar. Um dia parece que vai acontecer. Alimento a ilusão, parece que chego lá perto. Estou quase. Saboreio já os doces frutos. Mas logo desaparecem mal me afloram os lábios. Tântalo! Um aperto breve no estômago, e recomeçar, tudo de novo. Uma, duas, três vezes. E mais outra. E outra. Procurar, esperar. Afinal não me posso queixar, eu decidi assim. Podia ser tudo tão mais fácil. Prefiro manter-me no meu mundo de ilusão. Irreal. Esta chama, apesar de tudo, não se apaga. Espero, fico sempre à espera. Sem desesperar.

Sem comentários: