4.3.07

O silêncio

[Correggio - Ganimedes]

Lembras-te daquele dia. Daquele jantar. Daquele silêncio. Não gosto de falar. Jantar a dois. Já não me lembro porquê. Por acaso. Porque estávamos sozinhos. Porque não havia mais ninguém. Não me lembro. Mas havia aquele silêncio. Húmido. Agradável. Sentíamo-lo à nossa volta. Opressivo. Hipnótico. Não era aquele silêncio de quem não tem o que dizer. Era um silêncio cheio. Não de palavras. Cheio de amor. Acho. Não sei. Já não sei nada. Brincava com o garfo. Recortava figuras toscas na toalha de papel. E tu olhavas. Sempre aquele riso trocista. Silencioso. Onde estás. Preciso de ti agora. Quando aqui estás não penso.

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