وَيَقُولُ الْإِنْسَانُ أَئِذَا مَا مِتُّ لَسَوْفَ أُخْرَجُ حَيًّا wa-yaqûlu l-'insânu: 'a'idhâ mâ mittu lasawf 'ukhraju hayyan? e diz o homem: acaso quando morrer ressuscitarei? Alcorão, Sura de Maria (19), 66
Levantar-me para quê. Se eu deixo os olhos esmagados nas rugas destes lençóis. E a noite me morre lá fora. Agora.
Arrojar este corpo sem olhos. Rolá-lo ao longo da cama. Sísifo. Eu sei. E empurrá-lo. Derramá-lo devagarinho. No chão de alcatifa silenciosa. Vês. Este cai e não volta. Pôr-lhe os olhos no lugar. Primeiro este. Depois. Agora vai-te. E depois enrolar-me nestes lençóis encharcados de agonia.
Já nada me espera. Nem ninguém. Nos lençóis engelhados de medo. E assim a dor de me arrojar até. De os puxar e esticar na certeza de que as rugas regressam na fúria da noite. Sempre. E o sal vomitado de olhos vermelhos. Há muito deixou de fazer sentido.
[Cantado por Michael Pitt, em Last Days, de Gus Van Sant]
From rape... To right in... To real... To live... Should I lie...down... Or stand up And walk...around...again?
My eyes finally wide open up My eyes finally wide open shut To find the found of sound That hears the touch of my tears. Smells the taste of all we waste Could feed the others But we smother each other With the nectar and pucker the sour Of sugar sweet weather blows through our trees Swims through our seas Flies to the last gasp we left on this earth...oh ohh...
It's a long lonely journey from death to birth It's a long lonely journey from death to... It's a long lonely journey from death to birth Oh...it's a long lonely journey from death to...birth
Should I die again? Should I die around the pounds of matter wailing to space? I know I'll never know until I come face to face With my own cold, dead face With my own wooden case... You are with me, with me, ooh, ohh, hmm I'm mourning you ooh, ooh, ohh, hmm
It's a long lonely journey from death to birth It's a long lonely journey from death to birth It's a long lonely journey from death to birth It's a long lonely journey from death to... birth
Se a noite me traz a memória e os sonhos povoados de ti. Os dedos ágeis dobrando vincando. Toma. É para ti. A flor de papel que amarela moribunda no fumo dos nossos cigarros. Dois dedos estendidos e os olhos pisados de dor.
Enquanto os olhos me rebolam de preguiça adormecida no chão molhado da insónia de ontem eu pergunto-me se valerá a pena estender a mão. Apanhá-los. Passá-los por água fresca. Levá-los ao seu sítio natural de dormência e acabar de beber este chá azedo e levantar este corpo sem dor e abrir aquela porta.
Como as cobras que deitam a língua de fora provando o ar. A que te sabe o meu ar. A musgo a bolor. A ondas de sangue e de tédio. De quantos tijolos vais precisar. Para me esmagares o crânio e de lá me arrancares καὶ ἐκβαλόντες ἔξω τῆς πόλεως ἐλιθοβόλουν καὶ οἱ μάρτυρες ἀπέθεντο τὰ ἱμάτια αὐτῶν παρὰ τοὺς πόδας νεανίου καλουμένου Σαύλου(*). Trinta e cinco. Um a um.
(*) quod interpretatur et eicientes eum extra ciuitatem lapidabant et testes deposuerunt uestimenta sua secus pedes adulescentis qui uocabatur Saulus (Act 7:58)
Não há nada. Nem luz nem trevas. Mas ele está ali. O homúnculo. Sinto-lhe o nariz a fungar assim como um rato. Provando o ar. Para ver onde eu estou. Musgo. O meu cheiro sabe a musgo. Sinto-o na língua e nos dedos. E ele funga. À minha procura. E de repente o terror. Esmagando-me as tripas. É ele. O corpo enrolado e a boca fechada. Como se pudesse matar o cheiro. E ficar indetectável neste vazio neste nada. Enganou-me. Mas agora eu sei. É ele.
'Senhor'
Funga funga. Não me apanhas. Porque agora eu já não quero. Porque agora eu sei quem tu és.