17.3.09

Sem parar

[Nicolas Bertin - Faetonte no carro de Apolo]

Pregou o cigarro nos lábios. Abriu a janela. Depois entornou-se aos bocadinhos. Não. Cuspiu. Melhor do que entornar. Cuspir Porque entornar entorna-se um copo de água. E cuspir cospe-se um cuspo. Um nojo um incómodo um excesso. Não um copo de água ou de vinho. Um copo de água entorna-se por acidente. Vá lá. Por capricho. Mas não por nojo nem incómodo nem. E um de vinho pode ser por amor aos deuses. Ou medo. Ou medo. Se calhar. Talvez entornar. Sim. Porque cuspir é assim uma coisa de repente. Um rosnar um revolver da garganta e depois um explodir e um calar. E entornar não. Entornar começa devagarinho e continua a morrer a morrer e parece que não vai acabar e quando acaba parece que ainda não acabou. Mas dizia eu lá em cima. Que dizia eu lá em cima.

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