1.1.08

Explicit

[Turner - Chuva, Vapor e Velocidade]

Está frio e as pedras pesam-me em cima. Onde estou. E os olhos. Abertos ou. Negro e frio. Não sei se quero saber. Afinal. O que é isto. As mãos não as posso mexer. Em cada uma um peso gelado. Igual. Não mais uma do que a outra. Ainda que a esquerda tenha sempre sido mais forte. Mas agora. Que importa. E os braços. Esmagados. Porque lhes ouço os ossos a gemer contra a gravilha. Não doem. Aliás. Não doo. Só o frio. E o peso. Sem dor. No corpo. Na cabeça a de sempre. Onde estou. Os meus pés não estão aqui. Não me perguntes como. Mas eu sei. Não estão. É como se acabasse nos joelhos. Depois é o vazio. Já imaginaste o teu corpo depois dos pés. Não há. O teu corpo acaba ali. Depois não há nada. O meu acaba nos joelhos. Ou então. Nem o meu sexo. Agora não está. A quem interessa um sexo tão. E ainda que estivesse. Se não lhe chego com a mão. Para que serve um sexo se não se lhe chega com a mão. E há outras coisas notáveis. O meu peito não sobe e não desce. Mas há uma pedra que me vai entrando devagarinho. Sinto-a abrindo-me caminho por entre pulmões. E não dói. Está frio. E a pedra mais quente do que. Se não me sobe o peito nem. Então. Depois lembrei-me. Já sei onde estou. Acabou. Ou.

1 comentário:

taperto disse...

gostei muitíssimo de teu texto! quando tiver tempo, por certo lerei mais frutos do teu blog. mas, por ora, meus parabéns.