Tiravas o invólucro de plástico que amortalhava o marlboro e dizias agora vamos dar um beijo. Eu fumava sg ventil porque era mais fraquinho e depois assustava-me. Tu rias poucochinho. Assim só um abrir de lábios a mostrar uns dentes largos que ainda não estavam amarelos de nicotina. Porque tu eras puto. Eu tinha dezasseis. Tu catorze. Ou quinze. A voz a escorrer-te dos olhos de aço. Agora vamos dar um beijo. E eu não sei se era o medo se era o. E o perceber-te as formas debaixo do turco do pijama (Πλάτων, Χαρμίδης). Os teus olhos de aço a rasgar-me as entranhas. E depois abanavas o invólucro de plástico e fechavas os lábios e matavas o sorriso. Coçavas os cabelos de platina e era como se agora não tivesses quinze mas vinte e cinco ou trinta ou. Agora vamos dar um beijo. O sotaque nórdico e o calor que te escorria da boca. E punhas o plástico em frente dos teus lábios e dizias não tenhas medo que não é a sério. E não era a sério porque tu punhas o plástico à frente dos lábios. Mas fecha os olhos.
1 comentário:
E se o beijo fosse em cada buraco da flauta, o sabor a voar por esse labirinto de notas?
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