À noite havia gritos no ar e eram corujas que me arrancavam as tripas até. E quando eu soube que era uma coruja o medo morreu e as minhas noites tornaram à paz. Fantasmas que me arrancavam da cama e sombras geladas. E afinal uma coruja. Os olhos e o bico tão pequenino.
Havia aquele calor. Sabes. Molhado. E não era isso. Nem as mãos nos cabelos e a saliva morna. Borboletas gigantes e o doce gozo revolto no ventre quente. A culpa e a dor esmagadas vencidas numa luta suada. Pára pára pára. Não disse pensei. Não diria. Nunca. Ah não. Eu não falava. Apertei-lhe a cabeça e rosnei um soluço mudo. Pára pára. Não. Eu tenho uma barriga que vai rebentar de. Se eu não lhe tivesse dito que. A culpa é minha. Qual culpa. Parece que me vai rasgar o peito e saltar cá para fora esguichando vermelho por todo o lado. Arranco-te os cabelos um a um a um a um e tu não gemes. Se eu pudesse falar dizia-te pára pára. Porque agora. Agora agora agora. Depois deitei a cabeça contra o vidro embaciado. E havia uns olhos brancos e um bico.