29.3.08

Kill the pain . XVII . Explicit

[Fra Bartolomeo - Sagrada Família e São João Baptista]

Trinta tijolos trinta e cinco. Acabou.
Não há saída.
Acabou.

Não sei quantos dias se dias se noites. Este delírio de velhos sem boca e os narizes de rato. Se alguma coisa bebi ou cheirei. Pode ser esta falta de luz. Os bolores que se agarram nojentos às mãos podres. Fungos. E o raspa raspa que não pára. Ratos ou. Enrolar-me de novo na manta de malha. E as mãos metidas coladas às pernas. Pijama morno. Depois há uma névoa no ar que foge do copo cheio de chá quente. Preto. E o cheiro azedo do corpo cansado suado e a mão medrosa que sai do pijama e se queima no copo de chá. Coisa pior. Morcegos mochos corujas. Quando eu era pequeno. Já sabes. Um morcego. Ou uma coruja. Já te contei tantas vezes. Mas esta não. Por isso ouve. Saindo da biblioteca da escola com o Darwin na mão. Anda cá. Vem ver. E eu fui. Fazia raspa raspa. Não com a boca porque da boca não lhe sai nada que se possa ouvir. As unhas contra o cartão da caixa prisão. Um morcego negro e peludo. Pequenino. Anda. Dá-mo. Não disse. Pensei. Eu não falava. Só olhos e boca. E as pessoas olhavam com pena e pensavam coitadinho é parvinho. Às vezes diziam. E eu corava e apertava os lábios e não dizia nada. Um dia vais ver. Um dia vão ver todos. Desci as escadas com o Darwin e fui para casa enterrar-me no sofá ou na cama ou noutro sítio qualquer. Como um rato com asas. Se mo tivesse dado. Abria-lhe a caixa e soltava-o no meu quarto. De dia dormíamos os dois.

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