24.5.08

Cobra

[Velázquez - Los Borrachos]

Enrolado em mim cobra de olhos mortos que olham para lado nenhum. O corpo mole pesado erguido do chão em soluços arrítmicos. Esmagando-me o peito enquanto me enlaça e me afagam as mãos

Como aquela vez em que. Sempre tive vergonha. Tu sabes. São coisas minhas. Nossas. Mas agora que importa. Em que não sei se era o álcool se um pretexto. Porque é que tu nunca me falaste disto. Porque é que nunca reagiste. Podias ter dito pára. Ou o que é que tu queres. E se só depois te tivesses dado conta. Não gostei. Que ideia foi a tua. Qualquer coisa. Gritar. Fugir. Mas não o silêncio. Como se nada. E eu despejava nos teus os meus. Os olhos. Suplicantes. À espera de um sim de um não. De um murro até. Sabes. Como aqueles que distribuías a estranhos. Eu nem a isso tive direito. E eu merecia. Podias ter-te virado para trás. Questamerda. Toma. Lembras-te. Eu não. Só do teu corpo cuspido no meu. E da pressão tu sabes a pressão. O meu pequeno embaraço. صغير . Rasgando-te as costas delírio impensado. E tu nem um pára nem um questamerda nem um. Um sonho sabes um sonho de merda. Para depois abrir os olhos e ver-te ali. Dois montinhos enrugando o lençol ao fundo da.

pesadas torpentes de vinho cansado. E o doce húmido que te escorre da boca e eu devia virar a cabeça e fugir-te os murmúrios etílicos. Sinto-te o corpo molhado uma lata de cerveja bebida trepando-me sem parar sem pudor. Os teus anéis fortes expulsando-me as entranhas do lugar e cada vez me é mais difícil res. Respirar e não é do teu aperto quer dizer sim é do teu aperto mas não é a força que tu fazes é o teu calor e o meu embaraçoصغير sim sim o meu pequeno embaraço espero que não repares. E se reparares. A culpa é tua. Dos teus lábios. Os teus lábios cheiram a mosto e a fumo e àquele cheiro azedo do fim da noite e se eu pudesse morder-tos até gemeres outra vez como agora enquanto me entornas os teus olhos vermelhos garganta abaixo. Sabem a vinho negro pastoso. Os lábios de carne tremida que se abrem e se fecham colados quase quase colados aos meus. Pára por favor. Porque se tu não queres então porque me torturas assim.

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