1.5.08

O medo

[Caravaggio - Flagelação]

à memória do Rui

«O prédio que constroem à minha frente emparedar-me-á em breve à maneira das personagens de Poe e somente os meus dentes cintilarão nas trevas, como os dos esqueletos antigos acocorados num ângulo de caverna, a abraçarem os ossos dos joelhos com os tendões amarelecidos dos cotovelos.»
António Lobo Antunes, Os cus de Judas


Quando a morte te perseguia pegavas no carro e ias deitar a cabeça fora. Depois chegavas lento de olhos esmagados de um medo ferrugento oxidado. Tiravas o pé do pedal e despejavas devagarinho o olhar. E assim quando os teus olhos alfim se punham nos meus eram duas bolas macias e mortas e a morte lambia-me o peito e rosnava venci.

1 comentário:

Carolina Sotero disse...

por acaso do google, seu blog me serviu informação.
Fiquei maravilhada com os links e a expressão religiosa deles!
Parabens pelos textos.
Vou adicionar para com calma depois ler os que me interessam bastante.