«- A sério, paizinho, nunca na vida me calhou ainda vender mortos. Vivos, isso sim, já tenho cedido alguns; ainda há dois anos vendi ao arcipreste duas raparigas, por cem rublos cada uma, e ele agradeceu-me muito, são boas trabalhadeiras, tecem-lhe as toalhas.
- Olhe, não se trata de vivos, os vivos que vivam com Deus. Estou a pedir-lhe mortos.
- A sério, como é a primeira vez, tenho medo de ser prejudicada. Tu, paizinho, às tantas estás a enganar-me, e o preço deles... de qualquer maneira... é superior.
- Oiça, mãezinha... irra, como a senhora é! O que podem eles valer? São simplesmente pó. Pegue numa coisa qualquer, um simples farrapo, e o farrapo tem o seu preço: ainda pode ao menos ser comprado por uma fábrica de papel, mas aquilo é perfeitamente inútil. Diga-me lá a senhora, que utilidade pode ter aquilo?
- É verdade, é mesmo isso. Não têm utilidade nenhuma, a minha dúvida, precisamente, é estarem mortos.»Nikolai Gógol, Almas Mortas
Trad. Nina Guerra e Filipe Guerra
Assírio e Alvim, 2002
28.8.08
Pó
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