15.7.08

Kill the pain . XXVII . Erde from erde

[Francisco de Zurbarán - Virgem com o Menino e João Baptista]
Quero acabar com minha vida porque tenho a ideia, porque não quero ter medo da morte, porque... porque neste assunto o senhor não tem nada que saber... O quê? Quer chá? Está frio. Trago outro copo.
Dostoiévski, Demónios
trad. Nina Guerra e Filipe Guerra


Abrir a porta e afogar-me até ao fundo do corredor. Depois há uma porta. Outra. Que vomita línguas de luz. Pente. Pelas frinchas pegajosas. É o medo sabe. Nas costas. É como se lá estivesse outra vez. É o medo sim. E o embaraço. É. É sobretudo o embaraço. A minha vida amigo. Senhor. Meu senhor. Perdão. É feita de coisinhas pequeninas e sem importância. E eu de olhos enrolados nas mãos escondidas. Bêbedo da luz crepuscular. Morna. Que lambe o consultório. E o embaraço escorria-me pelas bochechas escaldadas. Mal lhe via a careca inquisitiva. Como foi. Estava sozinho ou acompanhado. Sozinho. A caneta escarrando desprezo na folha na ficha de doente. Goza. Dói-lhe. Não. Mas doía. Cá dentro. E essa dor não ma pode ver. Lembras-te. Bairro Alto. Entre cervejas maçadas. Os olhos pretos de dor. Que tens tu. Sempre tão triste. Nada. Não te preocupes. Depois abria muito os olhos e dizia que só a morte o. Houve aquela madrugada gelada. Na Estrela. Lembras-te. Estás aí. Diz qualquer coisa. Sentados no chão. E os teus braços mornos e o teu hálito. E dizias tu não és como os outros. Não sou. Por isso estou aqui. À espera da. E tu já estarás livre. Eu em breve.
إن شاء الله

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