O que aqui pondera e sente muito a piedade dos santos, principalmente S. Bernardo, é que, nascido de oito dias, sujeitasse o Senhor aquele corpozinho tenro ao duro golpe da circuncisão. Tão depressa? Aos oito dias já derramando sangue? Desta pressa se espantam os Doutores; mas eu não me espanto senão deste vagar. Que venha Cristo a remir – e que espere dias? E que espere horas? E que espere instantes? Quem cuida que é pouco tempo oito dias, mal sabe o que é esperar pela Redenção.Padre António Vieira, Sermão dos Bons Anos
Depois abriu a porta e eu saí e estrangulava a receita na mão humilhada. Esta pomada. De manhã e ao. Deitou-me os olhos caiados de. Não. Caiados não. Caiados seriam brancos. E estes eram roxos. Pintados de roxo. Senhor. Passou já passou. Isto dizia-me eu. Enquanto saía. E abria passagem por entre corpos naufragados em cadeiras agoirentas. E ela descolou as pálpebras das minhas e rosnou o nome a idade ao senhor de bengala e cheiro a cão. A cão. Ou talvez fosse a gato. Não sei. De animal. Ou talvez fosse ele. Dele. Há pessoas que cheiram a bicho. A cão ou a gato. Eu tinha cobras. Já lhe contei. Sim sim. Eu lembro-me. De água. Inofensivas. Deitam um cheiro. Nem queira saber. Quando se assustam. E não sai. Um dia saí com uma no bolso da camisa. Para meter medo às pessoas sabe. As coisas que eu fazia. Quinze anos. Mas quem teve medo foi ela. E a camisa nunca mais a pude vestir. Não saía. O cheiro. A farmácia. Não sei. Não cheira. Ou cheira. Cheia de gente abatida. Velhos de morte nos olhos e crianças caladas ao colo de mães de olhares vazios. Bocas afundadas num medo de morte. E no ar o cheiro a remédio. Xarope شراب xarâb. Bebida. Fermentada não bebem. Mas chá. Um dia vou ao deserto. E café. De camelo e turbante. E talvez um dia. Talvez. Já fui cristão. Mas sabe o que me assusta. Cortar o prepúcio. Boa noite é esta receita. Boa noite.
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