Impresso de 1726, achado na Biblioteca Nacional, com a quota H.G. 23767//7 P, encadernado entre outras coisas bem menos interessantes, posto que mais importantes. Transcreve-se respeitando ortografia e pontuação. Em episódios.
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«Os que se tinhaõ retirado no principio da batalha para o bosque, tornáraõ a entrar em novo perigo, porque o Monstro, accrescentando à sua braveza natural, o furor, que lhe causou o medo, a tudo quanto encontrava, fazia em pedaços. Entre estes refugiados havia hum soldado, que vendo encaminharse o Monstro contra o seu cavallo, se lançou delle em terra; e vendose em termos de perder a vida, tirando dos desalentos forças, empunhou huma lança, com que se achava, e com taõ opportuno sucesso lha empregou na garganta, que logo subitamente desanimado o Monstro cahio por terra. À vista de taõ feliz accidente, começaraõ a animarse os que já se tinhaõ por mortos, e concorreraõ todo a empregar as suas armas na moribunda Fera; porém nem todos a feriraõ a seu salvo, porque com o mesmo movimento a que as ancias da morte a obrigavaõ, prostrou a alguns por terra, e naõ só com as unhas, mas com a cauda ferio, e matou outros, porque parecia hum tiro de bésta cada movimento da cauda.
Inexplicavel foy a alegria, que receberaõ todos os Povos circunvisinhos, com a noticia da morte de animal taõ cruel. O damno, que fez naquelles contornos he muito mayor, que o que se refere; porque só dentro de hum mez, naõ fallando em gados, faltaraõ de pessoas conhecidas quarenta e nove. Concorreraõ todos à montanha para o verem morto; e como em triunfo dos aventureiros, o trouxeraõ sobre hum carro a Jerusalem, onde se tiraraõ varios retratos, que se mandaraõ a differentes partes do mundo. Naõ falta quem ainda tenha o receyo, de que haja macho da mesma especie, e que tenha filhos, de que se possaõ receber semelhantes insultos.»
[continua]
[continua]
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