27.12.08

Ninguém

[Honoré Daumier - Carruagem de 3ª classe]

Talvez nos tenham visto e por isso olham e riem. Riem de mim. Estás a ver. Quando me deixaste diante do prédio. Lembras-te. E eu deitei a mão à porta do carro. Não tenhas medo. Ninguém nos vê. A noite é funda e é nossa. Puxar a tranca arrojar-me escarrar-me no meio da rua. E é já ali. Sair do carro e atravessar sem olhar para um lado e para o outro porque a esta hora. Só os cães a rosnar e eu vou subir as escadas oito andares para não acordar ninguém porque o elevador. O barulho. E parar em cada patamar e tapar os pulmões e entornar os ouvidos escadas abaixo a ver se alguém. Porque se alguém me vir se alguém nos vê. Não não não não. Depois pegaste-me na mão. Devagarinho. Tiraste-ma do puxador e o teu corpo enorme esmagando-me o peito e o pescoço. Ninguém nos vê.

1 comentário:

André disse...

um feliz 2009!