25.4.09

Ácido

[Balthasar van der Ast - Lagarto e concha]

E eu fiquei. E enquanto me entornavas beijos enfadados eu pensava que se não fosses tu mais ninguém me levaria escada acima para me calado não faças barulho. E eu não fazia e engolia devagarinho os passos nos degraus e sustinha a asma e chegava à tua porta roxo e com picos de luz nos olhos. E depois o despir das roupas fumadas e a cama xiu cuidado não faças barulho que se range e a velha nos ouve. E eu não fazia. Depositava devagarinho o corpo nos lençóis suados e os teus olhos pingavam nos meus mas era só porque eu estava em cima de ti e tu em cima de mim. E em vez de me encherem a barriga de bichos aos pulos

há quem diga que são borboletas e eu acho que não pode ser
miriápodes
centopeias
gorgulhos
escaravelhos
até besouros
porque eu gostava de miriápodes
e de centopeias e de outros bichos com muitas patas e cascas rijas
porque as borboletas eram coisas
mariquinhas
de menina que se me entrassem na barriga então eu era um
mariquinhas
portanto eram bichos peludos patudos de casca grossa

eram sumo ácido de limão. Sabes. Um ácido feio a cheirar a cerveja rasca e que me comia os olhos e me arrancava aos repelões os últimos nacos de sossego. Porque esta noite era sempre a última e havia sempre outra e outra e outra e outra. E isto nunca mais acabava.

1 comentário:

Anónimo disse...

dos insectos... pois
:)