a J. B.
Não é que alguma vez me tenha esquecido de ti. Há momentos em que não és mais do que uma memória doce e vaga. Às vezes és recordação viva. Pungente. Sentado no alto da arriba olhava o mar. Abraçava-me a mim mesmo, procurando o meu próprio calor. Vento frio varrendo o areal deserto. Houve aquela madrugada, lembras-te. Um Inverno tremendo. Ou seria já Primavera. É-me tudo tão gelado. Aquele início de mil novecentos e noventa e oito. Tão negro. Sem esperança. Mas houve aquela madrugada. Agasalhados, olhando o mar. Lá tão longe. Tão medonho. Calados, olhando em frente. No cimo das arribas. Não devemos ter trocado mais do que meia dúzia de palavras. Eu sabia o que queria, mas não tinha coragem. Tão ferido, ainda. Tão inseguro. Tu, não sei. Talvez já soubesses o que querias. Tinhas mais medo do que eu. Muito. Muito mais. Nascia o dia. Enregelados. Podíamo-nos ter abraçado. Mas não. Tínhamos medo. Até que um dia. Até que uma noite.
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