sed quia tepidus es et nec frigidus nec calidus incipiam te euomere ex ore meo
mas porque és morno, e não és nem frio nem quente, começarei a vomitar-te da minha boca
Apoc. 3:16
Um morcego. Assim. Com umas asas tremendas. Escondidas. Claro. Como. Sei lá. Escondidas. Não interessa. Depois abria. Sítio alto. Uma casa uma árvore uma pedra uma montanha. As asas. E ficavam todos a olhar. Olha é ele. O puto gordo. Gordo não. Magro. Sem músculos. Quer dizer. Normal. E tinha uma cauda. Como um macaco. Morcego-macaco. Saltava de árvore em árvore e ninguém se chegava a mim. Eu não queria. Enroscar-me escondido nos ramos nas folhas no. Às vezes aparecia. De repente. Não era para salvar ninguém. Super-herói não não. Salvar-me a mim. Não. Abria as asas e voava. E ficavam todos a olhar sem saber quem eu era. E havia uma menina que se apaixonava por mim. Sempre. Menina. Imagine. Tenho-o tratado por tu. Desculpe. Eu. Eu que. Claro. Uma menina. Houve aquela. Meninas. A voz grossa. Eu lembro-me. E a. Sim. E eu era gordo e tinha a cara cheia de. Diziam que era a barba que as borbulhas que. Que não me preocupasse que. Barba na testa. Morrer. Já. Eu tão feio e olhar para o espelho e ver a testa cheia de barba. Morrer. Já. Depois o repuxo baixava e eu montado na baleia à porta da escola. Sorvendo guloso os olhos espantados. Mas não. Sem carne esta baleia. Sem água sem repuxo. Goela escancarada. Já está. Um ronco oleoso. Um arroto. Depois engasgou-se. Tossiu. Escarrou. Escarrou-me. Assim. Como quem vomita uma cartilagem de frango entalada na garganta. Por isso deixei de comer empadas de. Ninguém me viu. Deo gratias. Puxar enrolar-me no casaco. Nadar no ar pesado de gelo. Cada passo cada braçada.