Um dia pensei que se me rebentava a cabeça. Não de dor. Naqueles tempos ainda não me doía a cabeça. Era só o zumbido. O rezingar do sangue mastigando o silêncio da noite. Vazando zanga de um ouvido para o outro. Dois ouvidos sussurrantes. Zangados. Um com o outro. Os dois comigo. A seguir sim a seguir doeu-me a cabeça. Quando me deitava e parecia que os miolos se lançavam sobre os lençóis. Como se o osso se abrisse. E me abandonassem. Entregue aos meus terrores. Sozinho. Sempre sozinho. Mas então não. Era só o zumbido. Sempre sempre mais alto. A subir-me pelas entranhas acima. Até não conseguir ouvir mais nada. Só a zanga do sangue a ferver-me a cabeça. Um dia rebenta. Pensava eu. E depois haverá miolos a pastar no branco enojado do meu lençol.
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