9.6.08

Kill the pain . XIX . nondum explicit

[Andrea del Sarto - Madona e o Menino, com as Santas Catarina e Isabel e João Baptista]

And everything you got hoi-poloi like
Now you're lost and you're lethal
(cantado por Massive Attack)

'Já acabou senhor.'
'Já acabei o quê.'
'De sonhar.'

Sonho sono somnum. Habes somnum. Por isso as luzes nos olhos. Pirilampos picantes. E o anel de fogo. Nos meus olhos. Não agora. Agora não. Agora só os pirilampos pic pic pic. Por todo o lado. Dizem que é porque. Mas na altura. Se calhar porque me levantava tão cedo. Quê. Seis da manhã. Noite. E o frio frio. Depois fechava os olhos. Com força. Apagar o fogo. Que me esmagava as pálpebras. O anel de fogo. O que era aquilo. Uma doença. Não sei. Não sei nada. Depois abria. Os olhos. Entornava-me cama abaixo. Escorria pelo chão. Quarto tabágico sabes. O fedor das beatas destilando putrefacções. Sim e os pulmões amachucados doíam devagarinho. Uma morrinha negra de القطران pinga pinga. Negro viscoso. Que nojo. O que é. Alcatrão. Se me abrissem ai o cheiro. Abro a janela de noite e não serve de nada. Este fedor. Que me mastiga os pulmões. Já não tenho forças. Custa tanto. Respirar.

Se eu fechar os olhos. Embalado pelo ronronar do esquentador. Enquanto a banheira enche. E o estômago resmunga. Na cozinha há pão. Se eu. Não. Agora fechar os olhos. Sonhar que o dia acabou. E que isto é a minha cama. Não a borda dura da banheira. E que já cozi as minhas carnes na água quente. Cozi. Cozer parece um bacalhau. Quero dizer. O z. Era assim que eu pensava. O z manuscrito parece um bacalhau cortado ao meio. E o bacalhau coze-se. Não se cose. Porque o s parece uma agulha com a linha pendurada. O manuscrito. E o botão cose-se. Não se coze. E que a água já me arrancou as remelas teimosas. Para quê toda esta teoria de. Tirar os cheiros. Que ofendem o senhor militar. Já contei isto. Não me lembro. Abrir os braços e a cara de incómodo. Que foi. Cheiro mal. Eu sei. Não me deixaram tomar duche. Que queria o senhor. Acordaram-me com caralhos foda-se toca a despachar. Nem a cara me deixaram. E depois ontem sabe ontem estava tanto calor e à noite houve copos. Assim tome lá este fedor de suor e álcool requentado. Absinto. Podia ser pior. Imagine que entrei neste quartel nos braços de dois militares. Não não não se assuste. Eu não gosto de fardas. Mas não me aguentava em pé. Por isso tome lá este fedor de suor e álcool temperado com uma valente dor de cabeça. Mas eu não cheiro mal. Este gelo. Com a cara sobre a água quente. O vapor lambendo-me a pele. Entrar. De joelhos. O calor sonolento que me envolve as pernas. Como se fosse rezar. Até de manhã. Ficava aqui até amanhã.

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