21.9.08

Issa

[Fragonard - Mulher brincando com cão]

Issa é mais malandra que o pardal do Catulo.
Issa é mais pura que o beijinho de uma pomba.
Issa é mais fofinha que todas as miúdas.
Issa é mais preciosa que as gemas da Índia.
Issa é a cadelinha mais-que-tudo do Públio.
Se geme, cuidarias que fala.
Sente a tristeza e a alegria.
Deita-se tombada no seu pescoço e adormece,
de tal maneira que nem um suspiro lhe ouves.
E, obrigada pelas exigências do ventre,
gota nenhuma ofende os lençóis,
mas com branda patinha o acorda e lhe recomenda
que a tire da cama e pede que a levante.
Tanto pudor se acha na casta cadelinha!
Ignora Vénus, e não achamos
digno marido de tão terna menina.
Não lha leve por completo a morte derradeira,
pinta-a Públio numa quadro,
no qual verás tão parecida Issa
que nem ela é tão parecida consigo mesma!
Põe, pois, Issa ao lado do quadro:
ou ambas julgarás verdadeiras,
ou ambas julgarás pintadas!

Marcial, I. 109

Issa est passere nequior Catulli,
Issa est purior osculo columbae
Issa est blandior omnibus puellis
Issa est carior Indicis lapillis
Issa est deliciae catella Publi
hanc tu, si queritur loqui putabis
sentit tristitiamque gaudiumque
collo nixa cubat capitque somnos
ut suspiria nulla sentiantur
et desiderio coacta uentris
gutta pallia non fefellit ulla
sed blando pede suscitat toroque
deponi monet et rogat leuari
castae tantus inest pudor catellae,
ignorat Venerem nec inuenimus
dignum tam tenera uirum puella
hanc ne lux rapiat suprema totam
picta Publius exprimit tabella
in qua tam similem uidebis Issam
ut sit tam similis sibi nec ipsa
Issam denique pone cum tabella
aut utramque putabis esse ueram,
aut utramque putabis esse pictam

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