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Io. 21:25
Se eu queria uma toalha. E eu não não queria. O que eu queria era abrir a porta. A janela. Abrir a janela. Porque estava tanto calor. E a porta não se podia abrir por causa da velha. Não nos podia ouvir. Não me podia ver. E eu nunca a vi. Podia nem. Já me passou pela cabeça. Sabe. Podia ser mais uma humilhação. Eu ser a puta. Que entra em segredo em silêncio xiu. Clandestino. Trancado naquele quarto quente tão. E se calhar nem havia velha nenhuma. Se calhar era só mais uma humilhação. Sabe. Na faculdade fugia-me. Sim sim. Ele mesmo mo disse. Fugia de mim. Via se eu estava no bar. E se estivesse. Não se ria. Mas ele. O que ele se deve ter rido. Sim. Ele sim. Trepando escadas ridículas. Cuspindo olhares de desprezo por cima do ombro. Imaginar-me despido na sua cama. Eu. A sua puta. A quem telefonava quando mais ninguém estava. E eu dizia sempre que sim. Odiando-me a cada novo sim. Porque eu sabia. Porque eu gostava tanto dele. Sabe. Não sabe. Quando os dias são feitos a olhar para o telefone. E cada minuto é uma mão que nos abre a barriga e nos arranca as tripas. Devagarinho. Quando cuspimos a última vírgula de dignidade e dizemos sim outra vez sim sim. Subir as escadas e cheirar-lhe a indiferença no hálito azedo. Ler-lhe nos olhos a mole maçada de ter de me abrir a porta e a cama e. E ainda assim. Porque eu achava que. Sabe. A esperança parva dos apaixonados. Não. Não sabe. Como poderia saber. E esmagar na boca um riso medonho. O gozo. E eu o gozado. E eu sabia. E ainda assim.
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