13.3.06

Nada, mesmo nada

[Joaquín Torres García - Sem título]

a C.

Podia contar aquela vez em que todos saíram para a discoteca, e nós ficámos sozinhos, na casa de férias de uma amiga. As coisas não estavam bem. Trataste-me mal. Ignoraste-me. Provocaste-me. A minha apatia enervava-te. Provocavas-me. Fingias que me ias beijar, e desviavas a boca no último instante. Insultavas-me. Eu olhava-te, apático. Sofria por dentro, mas não era capaz de reagir. Tu sofrias, também. Afinal querias apenas fazer-me reagir. Por fim desististe. Desististe de mim. Sentaste-te ao meu lado, em silêncio. Assim ficámos o resto da noite. Era já de madrugada quando me levantei do sofá, desfeito por dentro, mas agindo como se nada se tivesse passado. Despedi-me de ti, cordialmente, e fui para casa dormir. Mas não valeria a pena contar isto. Não tenho mesmo nada para contar. Ficará para outra vez.

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