a R.
Não me sentia capaz de resistir. Ou não queria. E poderia tê-lo feito. Estávamos num lugar público. Ter-me-ia bastado virar a cara. Ou afastar-me. Mas eu não queria resistir. Apesar dos receios. Apesar das hesitações. Sabia que tudo mudaria, a partir do momento em que cedesse. Por isso tinha medo. Mas também uma enorme curiosidade. Curiosidade? Não. Desejo. Era desejo. Desejo puro. Intenso. No entanto, tinha medo. Sabia que era um ponto de viragem na minha ainda curta vida (teria 18 ou 19 anos). Sabia que aquele momento ficaria para sempre gravado na minha existência. Poderia até não ter retorno. Não o sabia. Mas, sem ceder, nunca poderia sabê-lo. Como desejava sabê-lo! Mas resistia, ainda. Mesmo que me sentisse sem forças para resistir. Resistia, ainda, com medo. Medo de me encontrar. Medo de encontrar alguma felicidade. Medo de deixar a segurança indolente e prazeirosa e frustrada em que tinha vivido até então. Resistia, debilmente. Ainda. Sabia, porém, que acabaria por ceder. Bastaria não desviar a cara.
1 comentário:
não faz mal sofrer por amor porque o importante é saber amar e ter alguem para recordar...
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