22.7.06

As mãos

[Ânfora ateniense do século V a.C.]

As luzes não se apagavam na enfermaria. Era difícil dormir. Os gemidos dos outros. Sempre aquela dor indefinida na cabeça. E a incerteza do que me ia acontecer. Às vezes adormecia. Um sono leve. Breve. Logo se me abriam de novo os olhos. À minha volta imagens difusas. Como se dentro de uma sauna. Mas sem o calor. Permanecia num estado que não era nem de vigília nem de sono. Vencido pelo cansaço. Não o suficiente para um sono profundo. Então senti que me acariciavam. Havia uma mão. Ou duas. Por cima do lençol. Não havia dúvida. Acariciavam-me. Primeiro pensei que estava a sonhar. Mas despertei e a mão continuava ali. Levantei a cabeça para ver quem era. Uma bata branca desfocada fugiu rapidamente do meu olhar. Deixei cair de novo a cabeça sobre a almofada. Tinham-me acariciado. Agora tudo era nítido. Acordara de vez. Com os olhos semicerrados tentava surpreender de novo a bata branca fugidia. Nunca ninguém me tinha acariciado daquela maneira. Um aperto no estômago mantinha-me acordado. Suava. Cheirava mal. Queria ir para casa. Maldita hora em que decidi esticar as pernas.

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