31.7.06

Serenidade

[Gerrit Dou - Velha regando plantas]

A maior parte da vida passei-a entre a angústia e o sobressalto. Procurando a serenidade. Ansioso. E então escrevo. E quando a encontro não mais consigo escrever. E tanta serenidade me traz a escrita. Agora parece que a conquistei. Não definitivamente. Às vezes gostava de a perder por uns momentos, só para voltar a escrever. Perdê-la e no instante seguinte recuperá-la. Só para conseguir escrever meia dúzia de linhas que me satisfizessem.

2 comentários:

Anónimo disse...

André, depois de ter lido os teus comentários no Renas e Veados (http://renaseveados.weblog.com.pt/arquivo/233913.html) tive que vir dar-te os parabéns pela forma como encaras a tua homossexualidade.
Sou hetero sem dúvidas ou problemas, casado, pai de duas filhas, e o que é curioso é que a minha opinião a respeito da atitude que os homossexuais devem tomar é exactamente igual à tua.
Discordo absolutamente das fantochadas, dos histerismos, dos falsos "orgulhos", das palhaçadas, das PANELEIRÍCES (perdoa-me o termo) que são exibidas nessas tais "Gay Parade".
E depois, o que é que se pretende com aquilo? Os homofobicos não vão deixar de o ser, muito pelo contrário, e os não homofóbicos se calhar pensam duas vezes depois de ver aquele triste espectáculo.
Ainda para mais, lendo outros intervenientes, fica a sensação de que o ser-se homossexual mais do que uma coisa natural é algo que transforma as pessoas em verdadeiros tarados sexuais cujo único objectivo na vida é o engate.

Eu penso que tens muita razão, em vez de uma luta pela igualdade mais parece uma luta pela radicalização da diferença.
Enquanto os homossexuais não considerarem normal a sua sexualidade não será possível que os outros o façam.

André . أندراوس البرجي disse...

Obrigado pelas tuas palavras de apoio. Não acho que seja curioso termos a mesma opinião: acho que é normal que quem tenha a sua sexualidade perfeitamente resolvida e assumida pense desta maneira. Só aqueles que ainda estão no armário podem pensar de outra forma. Vivem no seu mundo de engates, de paneleirices (não tenhamos medo da palavra), de discotecas gay (gosto da cacofonia "discotecaguei"), bares gay e outros guetos da mesma estirpe. Não sabem que cá fora há um mundo diferente, que há quem seja discriminado por ser homossexual, é verdade - mas também há quem seja discriminado por ser gordo, por ser negro, por ser de uma religião minoritária, pelos hábitos alimentares, pelos gostos sexuais particulares dentro da heterossexualidade. Um mundo onde, no entanto, nunca vi nenhum homossexual que não viva segundo os paradigmas criados pelos próprios homossexuais ser discriminado. E não entendem que enquanto se mantiverem nos seus guetos com essas atitudes ridiculamente militantes (para quando um desfile "fat pride", ou um arraial "blond air pride"?) nunca hão-de chegar a lado nenhum. Não entendo por que raio havemos de nos comportar, heteros e homos, de acordo com paradigmas impostos. Não entendo por que diabo não há-de um homossexual gostar de ir ao estádio e de ter outros comportamentos "à homem", nem por que razão não há-de um homossexual assmir sem problemas que gosta de teatro, de "ballet", de desfiles de moda. Aliás, não entendo tanta confusão por causa da sexualidade. Nem entendo que alguém tenha de se assumir, no sentido de fazer uma declaração formal à família ou amigos. Eu nunca me assumi dessa forma. Como disse várias vezes em debates naquele blogue, não dou mais importância à minha sexualidade do que à minha barriga - felizmente cada vez mais pequena. Pelo contrário: tenho muito mais problemas por causa da minha barriga do que por causa da minha sexualidade. Calhando em conversa, falo do assunto com a maior das naturalidades. A minha família mais chegada sabe, os meus amigos mais chegados sabem (admito que um ou outro possa não ter a certeza), não sinto nem nunca senti qualquer discriminação. Por isso não vejo razão para agir de outra forma. Um abraço.