8.7.06

Iterum noctua

Não faz barulho. Sombra branca cortando a noite. Parece que me olha. Que crava os olhos nos meus. Deliro. Não. Parou. Vira lentamente a cabeça. Cruzamos os olhares. Não sei durante quanto tempo. Não sei. Sinto que me devora por dentro. Quero fugir mas não consigo. Em vez disso corro na sua direcção. Desvia o olhar e levanta voo. Sombra branca fugitiva. Corro atrás dela. Arfante. Não me vais escapar. Há quanto tempo estou a correr? Há quanto tempo te persigo? Gato e rato. Coruja e rato. De novo paras. Outra vez me miras. Gelada. Estou quase a apanhar-te. São os teus guinchos que tenho ouvido. Que me têm avivado as noites. Que lhes quebram o silêncio opressor. Sombra branca silenciosa. Cola-se-me a camisola ao corpo. Suo. Coração descompassado. Só quero chegar ao pé dela. Tocar-lhe. Sinto o peso das gotas de suor abrindo caminho na minha testa. Estou quase. Abrando a corrida. Está ali. No ramo mais baixo. Lança-me um último olhar vítreo. Uma brisa abana os ramos. Parece hesitar. Desvia o olhar. Não fujas. Parece que me ouviu o pensamento. Abre as asas e voa em silêncio. Fora do meu alcance. Eu fico ali. Parado. Encantado. Olhos presos nas estrelas.

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