3.9.07

Burro

[Goya - Semana Santa en tiempo pasado en España]

- Quando eu morrer batam em latas,

Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro

Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...

Mário de Sá-Carneiro.


Puxar os lábios para cima não chega. E mostrar os dentes. Há todo um processo. Esquecer. Os dias pastosos. E as noites duras. A solidão que me esmaga o peito. Devagar. Tortura malvada. Um bocado bocadinho agora e outro depois. Devagarinho. Abrir os olhos e não ver. A boca e não dizer. Porque há esta luz medonha que me cega e me rouba as palavras. E depois arrancar o corpo da cama quente. Um bocadinho agora. Outro depois. Perder a vontade de. Deixar-me cair. E não me levantar mais. Por isso não chega. Puxar os lábios para cima. E mostrar os dentes. Porque um sorriso não é isto. Isto é um esgar.

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