4.6.06

Almas Mortas na mão direita

[Sloan - Noite de eleições]

Caminha célere na noite quente. Onde vais? Não sei. Passa a ponte. Lá em baixo o coro das rãs. Brekekex koax koax. Mergulha na cidade há tanto tempo abandonada. Desconhecida. Quase corre. Onde vais com tanta pressa? Meia-noite. Quente. Percorre caminhos antigos. Vai à procura da gente que nunca conheceu. Corre atrás do passado. Corre pelas rua medievais. Almas Mortas na mão direita. Barulho de bares. Aquele é-lhe familiar. Talvez o tenha frequentado há muitos anos. Espreita. Tímido. Quem queres ver? Não sei. Olha. Há uma cara conhecida. Acena esperançado. Sorriso de circunstância. Muro de gelo. Não é aqui que vai parar. Olham-no com desconfiança. Quem é este louco arfante de Almas Mortas na mão direita. Isto é ele a pensar. Na verdade ninguém reparou nele. Avança fugindo. Quase lhe caem as Almas Mortas. Corre para o imenso parque verde. Fora da cidade. Foge da cidade. Há adolescentes a jogar à bola. Tão tarde. Jactos de água regam a noite. Coro das rãs. Brekekex koax koax. Perseguem-me. Isto é ele a pensar. Lá em cima Marte olha-o rubicundo. Noite estrelada. Não se ouve a cidade. Só as rãs. Koax koax. Há ali um banco debaixo de um candeeiro. Há-de tentar de novo. Regressar aos caminhos antigos. Procurar uma cara conhecida sem sorriso de circunstância. Sem muro de gelo. Que ele próprio construiu. Não desistirá. Mas agora senta-se a ler. Uma da manhã. Tanto calor. De vez em quando olha ao longe as luzes da cidade abandonada. Fecha o livro. Em que estás a pensar? No tempo que perdi.

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