24.6.06

Puluis et umbra sumus

[Bosch - A floresta que ouve e o campo que vê]

à memória do Rui

Depois íamos sair. Não importava para onde. Podia ser o bar do quarteirão vizinho. Desse gostávamos muito. Não sei porquê. Era um café com pouca luz e muito fumo. E tinha "shots". E copos de "shot". Lembras-te. Cheguei a ter uma bela colecção. Num deles amareleceu durante anos a flor de papel que me fizeste. Já contei isto. Mas foi tão importante. É tão importante. Revivo estes momentos diariamente. Se calhar não devia expor a nossa amizade desta forma. Há quem ande por aqui e nos leia. E me leia. Monólogo. Tu não falas. Não respondes. Não podes fazê-lo. Às vezes gostava de ter fé. De acreditar na vida depois da morte. Mas não. Céptico empedernido. Ainda assim vou falando contigo. Não tens de falar. Não tens de me responder. A tua memória basta-me. A tua saudade. Imensa. Por isso falo contigo e não me importo que me leiam. É em ti que penso nos momentos de maior solidão. É em ti que penso nos momentos de maior desespero. Fazes-me falta.

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