[Piranesi - Carceri d'Innenzione VII]
Soam como elefantes em fúria, bramindo pela camarata. Que é isto. Onde estou. Levanto-me assustado. Já sei. Estou na pousada da juventude de Milão. São sete da manhã. As sirenes furiosas recordam-nos que dentro de uma hora, no máximo, temos de ter o pequeno-almoço tomado. Olho em volta. Caras estremunhadas. Desconhecidos. Alguns olham-me com curiosidade. Não me tinham visto chegar, na noite anterior. Vamos em fila para os balneários, silenciosos, encontrando pelo caminho os residentes das outras camaratas. Duche. Não me lembro se havia água quente. Tenho fome e frio. Dos balneários para o refeitório. Ouvem-se alguns risos. Murmúrios. Respira-se um ambiente marcial. Pão, doce, leite. Bom. O Pão não tem miolo, só côdea. É seco, esfarela-se quando o tento abrir. Barro a côdea com o doce de laranja, amargo. O leite é razoável. Não era isto que esperava. Quero ir para casa. Mas pelo menos a fome passou. Um empregado com modos bélicos berra-nos que são quase nove horas, e que a essa hora temos de estar todos na rua. A pousada fecha entre as nove e as cinco da tarde. Que cada um se entretenha como puder, até lá. Raus!