[Pontormo - Alabardeiro]
Não te amo. Salpicos salgados trazidos pelo vento. Avançávamos, lado a lado, junto ao mar. Sabia que mo dirias, um dia. Já o pressentia há muito. Olhava as vagas, cinzentas, revoltas. Estava frio. Não sabia o que dizer. E tu continuavas, impassível. Pensei que te amava. Pensei que eras "o tal", mas não. Gosto de ti. Mas não és "o tal". Percebes? Não, não percebia nada. Não me lembro se chorei. Talvez tenha deixado cair uma lágrima. Disfarçada pelos salpicos, agora mais grossos, trazidos pelo vento furioso. Não me lembro do que senti. Vazio. Talvez. Revolta. Porque achava que me amavas, apesar de tudo. Porque eu te amava. Ou achava que te amava. Tu percebeste-o. Eu, tolo, não. Perguntei-te se era o fim. Era uma pergunta retórica. O fim já estava a acontecer há algum tempo. Mas queria ouvi-lo da tua boca. Queria que mo dissesses claramente. Que deixasses finalmente cair o machado sobre o meu pescoço. Olhaste-me perplexo. Não, não é o fim. Eu gosto de ti. Não és "o tal", mas eu gosto de ti. Percebes? Não, não percebia nada. Um turbilhão de sentimentos. Eu queria o fim. Porque não aguentava mais. Porque te sentia fugir a cada dia que passava. Porque chorava todos os dias, vendo que te perdia. Queria o fim. Queria a sentença final. E tu não ma davas. Arrojar-me-ia aos teus pés implorando o fim desta agonia. Que tu me recusavas. Não sabia o que dizer. Não estava preparado para isto. Não queria ser eu a sentenciar esta relação morta. Não seria capaz. Nunca. Porque não desistia de ti. Porque achava que te amava perdidamente. E não disse nada. Sentado agora no pontão, encharcado, olhava o mar cinzento, e não via nele sofrimento nem humilhação nem falta de amor-próprio. Achava que te amava, e que entre agonizar e não te ter, a escolha era óbvia. As ondas molhavam-me os pés. Mas eu não dava por nada.
a J.
Não te amo. Salpicos salgados trazidos pelo vento. Avançávamos, lado a lado, junto ao mar. Sabia que mo dirias, um dia. Já o pressentia há muito. Olhava as vagas, cinzentas, revoltas. Estava frio. Não sabia o que dizer. E tu continuavas, impassível. Pensei que te amava. Pensei que eras "o tal", mas não. Gosto de ti. Mas não és "o tal". Percebes? Não, não percebia nada. Não me lembro se chorei. Talvez tenha deixado cair uma lágrima. Disfarçada pelos salpicos, agora mais grossos, trazidos pelo vento furioso. Não me lembro do que senti. Vazio. Talvez. Revolta. Porque achava que me amavas, apesar de tudo. Porque eu te amava. Ou achava que te amava. Tu percebeste-o. Eu, tolo, não. Perguntei-te se era o fim. Era uma pergunta retórica. O fim já estava a acontecer há algum tempo. Mas queria ouvi-lo da tua boca. Queria que mo dissesses claramente. Que deixasses finalmente cair o machado sobre o meu pescoço. Olhaste-me perplexo. Não, não é o fim. Eu gosto de ti. Não és "o tal", mas eu gosto de ti. Percebes? Não, não percebia nada. Um turbilhão de sentimentos. Eu queria o fim. Porque não aguentava mais. Porque te sentia fugir a cada dia que passava. Porque chorava todos os dias, vendo que te perdia. Queria o fim. Queria a sentença final. E tu não ma davas. Arrojar-me-ia aos teus pés implorando o fim desta agonia. Que tu me recusavas. Não sabia o que dizer. Não estava preparado para isto. Não queria ser eu a sentenciar esta relação morta. Não seria capaz. Nunca. Porque não desistia de ti. Porque achava que te amava perdidamente. E não disse nada. Sentado agora no pontão, encharcado, olhava o mar cinzento, e não via nele sofrimento nem humilhação nem falta de amor-próprio. Achava que te amava, e que entre agonizar e não te ter, a escolha era óbvia. As ondas molhavam-me os pés. Mas eu não dava por nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário