29.4.06

Peregrinatio mediolanensis IV

[Escher - Répteis]

Em Hendaye sinto todo o peso da solidão, pela primeira vez nesta viagem. Do desespero. Tenho de mudar de comboio. São seis horas de espera. Mochila às costas, vagueio pelas ruas da cidade. Vem-me aos olhos a imagem da mãe a chorar em Santa Apolónia. Revoltam-se-me as entranhas. Que ideia a minha. A cidade agride-me. Arrasto-me, vergado pelo peso da mochila. Não sei onde parar. As pessoas olham para mim. Ainda falta tanto tempo. Pudesse eu voltar já para Lisboa. Não quero saber de Milão. Nem do resto da viagem. Quero parar. Sentar-me. Mas não consigo. É como se parar significasse desistir. E eu não quero desistir. Ando, ando sem parar, pela cidade. Até me faltarem as forças. Até que ver forçado a sentar-me no chão. Saltam-me as lágrimas. Ainda faltam tantas horas para o comboio. E eu já não quero ir. Quero voltar para casa. Tenho fome, mas não tenho forças para abrir a mochila e procurar comida. Não sei para onde vou, não sei.

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