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Havia sempre uma mais solta. Com uma faca, previamente surripiada da cozinha, verificava se tinha folga suficiente. Que tesouro haveria lá no fundo, desta vez? Agachado entretinha-me a escavar, cuidadosamente, não fosse espantá-los. Esgravatava à volta, tentando soltar o obstáculo que se interpunha entre nós. Finalmente cedia. Tremia de emoção. Pousava a faca, excitado. Esperava uns segundos, estudando o melhor processo de o fazer sem os assustar. Finalmente espetava os dedos no buraco que abrira a toda a volta, e, lenta mas seguramente, retirava a pedra da calçada. Se tivesse sorte, lá estaria ele, o meu tesouro. Não o levava nunca para casa. Ficava ali, a admirá-lo, antes de recolocar a pedra no lugar: uma miríade de besouros, bichos-de-conta, minhocas... todo o tipo de animaizinhos que, como eu, adoram a escuridão húmida e quente.
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