22.4.06

Retratos

[El Greco - Retrato de dominicano]

à memória do Rui

Coisas de miúdos. Miúdos crescidos. Uma máquina automática, daquelas de tirar fotografias para documentos. Achámos que seria divertido tirar umas. Entrámos lá dentro, quase encavalitados um no outro, tão exíguo era o espaço. Não fizemos caretas - miúdos, mas crescidos. Fizemos caras de parvo. Sorrisos assumidamente artificiais. Olhares esgazeados. Bom, se calhar fizemos mesmo caretas. Mas isso é o que menos importa. Depois passámos a noite a exibir as nossas belas fotografias - havia um jantar qualquer, nesse dia, lembras-te a que propósito? Eu não. Mas estava muita gente. Que não achou assim tanta graça às nossas belas fotografias. Eu gostei delas. Captaram-nos. Naqueles sorrisos de gozo, assumidamente forçados. Naquele enorme divertimento a propósito de algo que à partida não teria qualquer graça. Éramos nós. Éramos assim. Acho que são as únicas fotografias em que estamos juntos. Tinha-as expostas na minha casa antiga, no quarto, num "placard". Empacotei-as, juntamente com todas as outras pequenas recordações que insisto em guardar para sempre, quando para aqui me mudei, há seis anos. Não consigo encontrá-las, agora. Já abri todas as caixas. Não sei onde estão. Não as posso ter perdido.

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