29.4.06

Peregrinatio mediolanensis II

[Caravaggio - São João Baptista]

Lento, lentinho, lentamente. Devagar. Muito devagar. C'est ça, le mythique Sud Express? Cabina de seis pessoas. Vou sozinho. Tant mieux. Entra um casal alemão. Olham-me com um misto de repugnância e medo. Orelhas multifuradas (coisa pouco comum na época). Cabelo quase rapado, com sulcos "à máquina zero" formando riscas e desenhos. Calças de ganga rotas e manchadas. Botas militares. Óculos redondos, pequeninos. Não os censuro. Admito que o meu aspecto fosse muito pouco convencional, naquele início dos anos 90. Poucos minutos depois levantam-se e vão para outra cabina. Não sem antes levarem algumas baforadas de fumo, acompanhadas de olhares provocadores. Je veux être seul, vous ne voyez pas? Allez. Foutez le camp. Abro a mochila, e preparo-me para longas horas de leitura. Levava A Jangada de Pedra. Je l'ai lu trois fois. Aujourd'hui je lirais Dostoïevski, Umberto Eco, Borges, Joyce, Tolstoï. Mais à l'époque c'était Saramago qui m'enthousiasmait. Coimbra B. Ou será Coimbra A? Não importa. A custo dei pela passagem sobre o Mondego, tão embrenhado ia na leitura. Coimbra.

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