[Bosch - São João Baptista]
O caminho. O gelo. E aquele ronronar das rodas esfregando os carris. Via a vida escapar-me pelos olhos. Enquanto os lançava contra o céu negro rasgado de branco. Nunca vira a Via. A Láctea. Tão branca. Os dedos dormentes. E aqueles pontinhos brilhantes. Furando-me a alma. E virava o pescoço e tirava a cabeça da janela e a imagem que me chegava à mente ainda era a da Via. A Láctea. Porque já não via nada. Negro. A escuridão pastosa. E havia aquele silêncio que me gelava o corpo. Louco. O silêncio. Cortado de branco. Enrolado no casaco gelado. E depois deixei de ver. E morri.
Rectas facite semitas eius. Abri os olhos. Novo. O céu cinzento negro pesado. Se calhar chovia. Havia humidade no ar. E a branca bola distante. Forçando o chumbo celeste. Casaco gelado lançado ao chão. Tanto frio. Sempre o ronronar. Dos carris acariciados. O vento forte entrando pelas frinchas. E depois acordei. Para a vida nova.
Ἑτοιμάσατε τὴν ὁδὸν κυρίου, εὐθείας ποιεῖτε τὰς τρίβους αὐτοῦ
Lc 3, 4
Lc 3, 4
O caminho. O gelo. E aquele ronronar das rodas esfregando os carris. Via a vida escapar-me pelos olhos. Enquanto os lançava contra o céu negro rasgado de branco. Nunca vira a Via. A Láctea. Tão branca. Os dedos dormentes. E aqueles pontinhos brilhantes. Furando-me a alma. E virava o pescoço e tirava a cabeça da janela e a imagem que me chegava à mente ainda era a da Via. A Láctea. Porque já não via nada. Negro. A escuridão pastosa. E havia aquele silêncio que me gelava o corpo. Louco. O silêncio. Cortado de branco. Enrolado no casaco gelado. E depois deixei de ver. E morri.
Rectas facite semitas eius. Abri os olhos. Novo. O céu cinzento negro pesado. Se calhar chovia. Havia humidade no ar. E a branca bola distante. Forçando o chumbo celeste. Casaco gelado lançado ao chão. Tanto frio. Sempre o ronronar. Dos carris acariciados. O vento forte entrando pelas frinchas. E depois acordei. Para a vida nova.
2 comentários:
O rio vem serpenteando
e dentro dele a cobra troca a pele.
O peixe pula e espadana
no brilho onde borbulha a corredeira.
As margens olham tudo, ensimesmadas.
Entre elas água e seixo,
leito onde dorme a turmalina.
Lá vem o mar, e tudo vira tudo e nada mais.
Abr.
Aisha
blog doce...
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