Porque há aqueles momentos em que aquilo que parecia. A nau que parecia derribada toma de súbito rota nova. E nem sempre o que parece. Lembro-me daquele dia há mais de trinta anos. Uma névoa pegajosa. E não sabia da mãe. Perdido. Havia areia e mar. E a névoa. E eu gritava mãe mãe. E achava que ela não me achava. Que não. E depois ela achou-me. Também ela me tinha perdido. Tínhamo-nos perdido um ao outro. E a dor dela tinha sido tão grande. E eu percebi que achar que só eu tinha perdido era stultitia maxima. Que às vezes quem parece não ter perdido. E assim segue a nau estultífera. Estulta sempre estulta. Mas ergue de novo as velas e lança-se ao mar. Destroçada ainda. Mas firme.
30.4.07
A viragem
Porque há aqueles momentos em que aquilo que parecia. A nau que parecia derribada toma de súbito rota nova. E nem sempre o que parece. Lembro-me daquele dia há mais de trinta anos. Uma névoa pegajosa. E não sabia da mãe. Perdido. Havia areia e mar. E a névoa. E eu gritava mãe mãe. E achava que ela não me achava. Que não. E depois ela achou-me. Também ela me tinha perdido. Tínhamo-nos perdido um ao outro. E a dor dela tinha sido tão grande. E eu percebi que achar que só eu tinha perdido era stultitia maxima. Que às vezes quem parece não ter perdido. E assim segue a nau estultífera. Estulta sempre estulta. Mas ergue de novo as velas e lança-se ao mar. Destroçada ainda. Mas firme.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Primeiro de Maio
Madrugada
NARRAÇÃO DE UM HOMEM EM MAIO
Estou deitado no nome: MAIO e sou uma pessoa
que saiu
violenta e violentamente para o campo.
Um homem deitado entre os malmequeres
rotativos do mês
atravessado pelo movimento.
É a noite aproximada com o livro dentro.
Deitado sobre bocados de estrelas no pensamento.
É a casa absorvida na manhã embatente.
Livro da poesia arrebatada.
Herberto Helder
Poesia Toda
Plátano Editora
Respiro!
Enviar um comentário