γῆ εἶ καὶ εἰς γῆν ἀπελεύσῃ
terra és e à terra voltarás
gê eî kaì eis gên apeléusêi
Génesis (versão da Septuaginta) 3:19
terra és e à terra voltarás
gê eî kaì eis gên apeléusêi
Génesis (versão da Septuaginta) 3:19
Um sótão esquecido tem frestas nas telhas por onde entram línguas de luz de cobre que fazem dançar a poeira. E o chão range se lhe pomos um pé em cima e depois o outro. E há cómodas velhas e arcas onde ninguém toca ou se calhar nunca ninguém tocou. E teias de aranha grandes do tamanho de um homem: cortinas cinzentas de pó enfeitadas aqui e ali por cachos de moscas mortas secas sugadas comidas por dentro. E há bolor e musgo e umbrófilas porque quando chove a água escorre pelas telhas rachadas. E um cheiro espesso que se entranha na pele. E a madeira estala e ronca gemendo as entranhas roídas.
Mas aquilo não era um sótão esquecido. Fechei os olhos e esperei. Eu sabia que tinha de esperar. O quê. Não sabia. Agora sei. Agora.
Talvez não tenha sido mais do que um momento. Percebi a claridade invadir-me as pálpebras. Abri os olhos e afinal não havia claridade. Uma penumbra de cobre. Assim como a luz moribunda que passa a minha cortina listada. Laranja. E vermelha. E já não estava tudo turvo. Olhos habituados àquela penumbra. Não havia frestas nas telhas. Nem línguas de luz nem cómodas nem arcas intactas. Nem teias nem aranhas. Nem bolor nem musgo. Nem moscas secas sugadas. Vazio. Só pó. E o pó não assentava.
Olhei para todos os lados. Um sótão imenso e o pó. Alto no meio. Tanto que não chegava às telhas mais altas. Mas eu era tão pequenino. E depois descia dos lados. Até tocar no chão de madeira lisa. Limpa. Sem pó. Agora notava. Tanto pó no ar. Mas no chão. Como a moldura vista de baixo. Madeira lisa limpa polida. Como se alguém. Ou alguma coisa. O pó dançava eterno no ar. Sem pousar.
E depois ouvi o toc toc. Ao fundo. Mas como. Se o ouvia todos os dias mesmo em cima de mim. E agora estava no ponto oposto. Mesmo lá ao fundo. Onde a luz morta já pouco alcançava. Um calor tremendo espinha acima. Mas medo não. Como se. Não. Lancei os olhos ao fundo do sótão. De onde toc toc. E depois vi.
Aquilo.
Mas aquilo não era um sótão esquecido. Fechei os olhos e esperei. Eu sabia que tinha de esperar. O quê. Não sabia. Agora sei. Agora.
Talvez não tenha sido mais do que um momento. Percebi a claridade invadir-me as pálpebras. Abri os olhos e afinal não havia claridade. Uma penumbra de cobre. Assim como a luz moribunda que passa a minha cortina listada. Laranja. E vermelha. E já não estava tudo turvo. Olhos habituados àquela penumbra. Não havia frestas nas telhas. Nem línguas de luz nem cómodas nem arcas intactas. Nem teias nem aranhas. Nem bolor nem musgo. Nem moscas secas sugadas. Vazio. Só pó. E o pó não assentava.
Olhei para todos os lados. Um sótão imenso e o pó. Alto no meio. Tanto que não chegava às telhas mais altas. Mas eu era tão pequenino. E depois descia dos lados. Até tocar no chão de madeira lisa. Limpa. Sem pó. Agora notava. Tanto pó no ar. Mas no chão. Como a moldura vista de baixo. Madeira lisa limpa polida. Como se alguém. Ou alguma coisa. O pó dançava eterno no ar. Sem pousar.
E depois ouvi o toc toc. Ao fundo. Mas como. Se o ouvia todos os dias mesmo em cima de mim. E agora estava no ponto oposto. Mesmo lá ao fundo. Onde a luz morta já pouco alcançava. Um calor tremendo espinha acima. Mas medo não. Como se. Não. Lancei os olhos ao fundo do sótão. De onde toc toc. E depois vi.
Aquilo.
Sem comentários:
Enviar um comentário