EMILY
(giggles) Pardon my enthusiasm!
VICTOR
I like your enthusiasm...
Danny Elfman
(Corpse Bride de Tim Burton)
a R2.
_toma lá mais uma imperial_eu não gosto de cerveja
_cala-te e bebe
E depois eu inclinava-me para a frente no banco alto e via-te derramar devagar devagarinho a cerveja no meu copo. Sem espuma. E depois eu levava o copo à boca e olhava para ti e tu olhavas para mim e não dizias nada. Os teus lábios apertados numa cara sem riso. E depois eu baixava os olhos e brincava com o copo na mão enquanto fazia tempo. Porque não fica bem beber sofregamente. Um gole pequeno. Saborear. E depois olhar para nada à espera de ser tempo de outro gole.
_queres outra
_quero
_afinal gostas
_um bocadinho
_és assim em tudo
_sou assim em tudo
_não gostas e depois gostas
_não gosto e depois gosto
Quando saía o último cliente era a nossa vez. Calados olhando as pedras da calçada. Enquanto descíamos em direcção ao Camões. E depois ao Chiado. Táxi. Para Queluz por favor. Só te via pelo canto do olho. Porque deitávamos a cabeça para trás e fingíamo-nos mergulhados em pensamentos inúteis. Daqueles que nos inundam a mente ao fim de uma noite de música e copos. Às vezes dizias qualquer coisa. Embalado na tua voz de veludo gasto. Soava-me como vinda de um barril velho de madeira. Profunda. Olorosa. Respondia o que me viesse à cabeça. Só para te ouvir. E depois apertávamos a mão e eu ia para a minha casa e tu para a tua.
Um vez não fomos apanhar o táxi ao Chiado. Lembras-te. Eu não me lembro bem. Quantos anos passaram. Dezasseis. Dezassete. Não sei. Lembro-me de que passámos a Basílica da Estrela. Ou talvez esteja a fazer confusão. Porque não me parece que fôssemos capazes de andar tanto ao fim da noite. É que nós não conversávamos. E andar tanto em silêncio. Não. Nem eu. Não sei onde foi. Mas havia um muro ao longo do caminho. Talvez fosse do Jardim da Estrela. Ou não. Não interessa. E depois paraste e olhaste para mim com a tua cara sem riso. Anda cá. E eu fui. Senta-te. E eu sentei-me. E tu sentaste-te ao meu lado. E ficaste a olhar para mim durante um momento. E depois disseste. Tu não és como os outros. E passaste uma mão na minha cara e chegaste-te a mim. E beijaste-me os lábios. Só os lábios. Assim. Levemente. Eu fechei os olhos. Abraçámo-nos sem dizer uma palavra. Sentados no passeio encostados ao muro. Apertados. Porque a madrugada estava fria. E de vez em quando tirávamos a cabeça do ombro do outro. E trocávamos um beijo. Nos lábios. Assim.
_queres outra
_quero
_afinal gostas
_um bocadinho
_és assim em tudo
_sou assim em tudo
_não gostas e depois gostas
_não gosto e depois gosto
Quando saía o último cliente era a nossa vez. Calados olhando as pedras da calçada. Enquanto descíamos em direcção ao Camões. E depois ao Chiado. Táxi. Para Queluz por favor. Só te via pelo canto do olho. Porque deitávamos a cabeça para trás e fingíamo-nos mergulhados em pensamentos inúteis. Daqueles que nos inundam a mente ao fim de uma noite de música e copos. Às vezes dizias qualquer coisa. Embalado na tua voz de veludo gasto. Soava-me como vinda de um barril velho de madeira. Profunda. Olorosa. Respondia o que me viesse à cabeça. Só para te ouvir. E depois apertávamos a mão e eu ia para a minha casa e tu para a tua.
Um vez não fomos apanhar o táxi ao Chiado. Lembras-te. Eu não me lembro bem. Quantos anos passaram. Dezasseis. Dezassete. Não sei. Lembro-me de que passámos a Basílica da Estrela. Ou talvez esteja a fazer confusão. Porque não me parece que fôssemos capazes de andar tanto ao fim da noite. É que nós não conversávamos. E andar tanto em silêncio. Não. Nem eu. Não sei onde foi. Mas havia um muro ao longo do caminho. Talvez fosse do Jardim da Estrela. Ou não. Não interessa. E depois paraste e olhaste para mim com a tua cara sem riso. Anda cá. E eu fui. Senta-te. E eu sentei-me. E tu sentaste-te ao meu lado. E ficaste a olhar para mim durante um momento. E depois disseste. Tu não és como os outros. E passaste uma mão na minha cara e chegaste-te a mim. E beijaste-me os lábios. Só os lábios. Assim. Levemente. Eu fechei os olhos. Abraçámo-nos sem dizer uma palavra. Sentados no passeio encostados ao muro. Apertados. Porque a madrugada estava fria. E de vez em quando tirávamos a cabeça do ombro do outro. E trocávamos um beijo. Nos lábios. Assim.
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