Não se pode viver assim. Um dia inteiro. Interminável. Depois a noite. Curta. E se não nascesse nunca o dia. Sempre a dormir. Se pudessem os deuses parar a marcha do Sol e fazer a noite maior. Onde é que eu li isto. Já li tanta coisa. Para quê. Sabe-me mal a pasta de dentes. Voltar para a cama. Não. Para quê insistir. Já não posso voltar atrás. Agora é enfrentar o dia. Ou não. Ia ver o mar. Já que não consigo voltar para a cama. Despachar-me. Adormecia com o copo de leite na mão. Como estou agora. Estátua de granito com copo de leite na mão. Porquê granito. É frio. Não sei. E passava o dia a dormir com a cara em cima da mesa. E depois só acordava à noite. E voltava a dormir. E nunca mais acordava. Não tinha de suportar o dia.
E se eu. Não sei. Era uma hipótese. Mas. Acabava-se. Estas maleitas matinais. Estes dias sofridos. Talvez conseguisse ser feliz. Que ingenuidade. Pois se eu não acredito. Ou acredito. Não sei. Há dias assim. Tanta dúvida nenhuma certeza. Mas e se. Talves funcionasse. Talvez conseguisse. Não mais teria pela frente estes dias intermináveis. Uma nova vida. Mas que vida? Vida? Não há vida. Cala-te. Hei-de calar-te de vez. Purgar o espírito. Assim como se purgam as tripas. Mas era o espírito que eu purgava. Libertar-me de tudo. De ti. Não sei. Não consigo. É demasiado difícil. Se eu não fosse assim. Tão cobarde. Incapaz. Chega.
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