23.8.07

Carta de desamor

[Pieter Brueghel o Jovem - Provérbios (pormenor)]

Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Álvaro de Campos


Abri a minha cabeça e tirei lá de dentro tudo o que sentia por ti. Agora está tudo nas tuas mãos. Na minha cabeça não ficou nada. Vês. Espreita. Não tenhas medo. Podes debruçar-te sobre a minha cabeça aberta. Nenhuma sensação te espirrará os olhos. Não te quero os olhos irritados com sensações minhas. Nem te morderá sentimento nenhum o nariz. Mas não deixaria de ser divertido. Ver-te ir embora com um sentimento agarrado ao nariz. O problema é que quando fecho a cabeça. Mesmo se a atar assim com tanta força. E puser cola daquela forte forte superforte. Volta tudo lá para dentro. Tudo o que eu sentia por ti. És tu malandro que me voltas a pôr tudo dentro da cabeça. Ouve. Peço-te. Guarda-me tudo o que eu sentia por ti. Fecha tudo dentro de um baú com três cadeados. Depois lança-o ao mar. Porque se tu não o queres. Eu também não o quero.

Sem comentários: