30.8.07

Kill the pain . I . Homúnculo

[Bartolomé González y Serrano - São João Baptista]

can you lick my wounds please
can you make it numb
and kill the pain like cortizone
and grant me intimacy
(cantado por Massive Attack)


Puxa-se a corrente e soa a sineta ao longe. Depois a espera. Paciente. Ou não. Há aqueles que desistem. Eu não. Porque para aqui chegar. Não posso parar. Não há retorno. Enfim. Alguma coisa lá dentro. Ruge-ruge mas não é saia de senhora. Aqui não há. Creeeeeeec. Pesada. A porta. Abre-te. Devagar. Eu espero. Já esperei tanto. Já está. Lá em baixo. Quase no chão. Um homúnculo seco. Pele de cera. Franzindo o nariz. Testando o ar. Para um lado e para o outro. E guincha. Como um rato. 'Faça favor. Vem para aquilo não é'. Hesito. É tarde. Já cá estou. Abro a boca. O homúnculo funga. Não me quer resposta. Vira-me as costas e lá vai ruge-ruge. 'Venha comigo'. Passo a porta. Grossa. Como consegue aquela sombra de homem abri-la. Não sei se a fecho. Se a deixo assim. Haverá alguém que. Já está. Não vou olhar. Isto não é um filme de. Outro homúnculo. De certeza. E não vou olhar para trás. Porque eu não. Porque não há retorno. 'Então'. O homúnculo. Está à minha espera. Ao fundo do corredor. Como é que lá chegou tão. Bate-me forte forte. O coração. Não sei se. Mas agora é tarde. Já cá estou. Mão na parede de pedra fresca banhada sempre de sombra. Por isso a pele de cera. O Sol não entra aqui.

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