26.2.06

A esplanada (I) - O tédio

[Klee - Peixe dourado]

O ar salgado. O céu azul forte. O Sol quente. A praia. Tudo isto me era odioso. Era um pesadelo, o aproximar do Verão, com a inevitável ida para o nosso pouso de férias. Longe das livrarias. Sem a necessária privacidade. E no entanto acabava por entrar naquele ritmo a um tempo indolente e boémio, conforme se tratasse do dia ou da noite. À tarde ia para a minha esplanada de eleição. Levava livros que ia lendo preguiçosamente. Romances, mas sobretudo ensaios e Histórias. Por isso podia levar mais do que um, debaixo do braço, e espalhá-los pela mesa. Lia um parágrafo de um, passava os olhos pelo capítulo de outro. Frequentemente parava alguns minutos, tentando pensar em nada, olhando para um qualquer ponto escolhido ao acaso. Assim se passavam aquelas tardes indolentes. Lendo, pensando, esperando pacientemente que o Verão acabasse. Sem grandes excitações, sem grandes aborrecimentos.

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