15.2.06

Homines dum docent discunt

[Dürer - Auto-retrato com flor de cardo]

Aos 21 anos, quase a fazer 22, dirigi-me à secretaria da faculdade para pedir o certificado de conclusão de licenciatura. Não sentia qualquer emoção especial. Tinha acabado um curso que fizera sem grande empenho - mas com muito gozo. Sem cadernos, com meia dúzia de fotocópias, muitas faltas. Vivera a vida, talvez de forma excessiva. Descurei os estudos, mas aprendi outras coisas, nem todas positivas. Agora, apertando despreocupadamente na mão o recibo que me permitiria dentro de dias vir levantar o bendito certificado, agora, ainda atordoado com os 15 contos deixados na reitoria pelo diploma de requisição obrigatória, agora preparava-me despreocupadamente para mais umas férias de Verão. Acabara o curso na altura em que o devia ter começado. Era um miúdo, fisica e mentalmente. Não era imberbe, mas passava facilmente por menor de 18 anos. E era imaturo, profundamente imaturo. Não sei como consegui fazer o curso sem reprovar a qualquer cadeira. Estava diplomado em Línguas e Literaturas Clássicas, mas sentia-me profundamente ignorante. Haveria de recuperar muito do tempo perdido, nos anos que se seguiram, fruto de uma maior maturidade. Haveria de me sentir ainda mais ignorante, à medida que ia aprendendo mais, à medida que a minha biblioteca crescia além dos limites físicos do meu quarto. Mas não era nisso que pensava, quando saí da faculdade e olhei, entediado, uma vez mais para a alameda deserta.

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