[Georg Pencz - Rapaz sentado]
Sentava-me entediado, na esplanada de sempre. Preparava-me para mais uma indolente sucessão de tardes de Verão, folheando livros, beberricando cafés, fumando cigarros, olhando para nada tentando pensar em nada. Detestava a praia, a areia, o mar. A custo suportava aquele mês de férias, sempre ansioso pelo regresso rápido a casa. Sentado, conformadamente sentado, preparava-me para passar mais um insuportável Verão. Mas havia naquele primeiro dia de férias algo diferente. Alguém diferente. Não estou a falar de atracções eróticas, estava até numa das minhas frequentes fases de celibato militante. Estou a falar de alguém que realmente me pareceu diferente. Um empregado de mesa que, ao fim de uns poucos dias, passou a atender-me com um sorriso diferente. Não era aquele sorriso educado, profissional, de alguém que atende um cliente. Era um sorriso de interesse, um sorriso empático. Talvez achasse graça a este rapaz sentado, com ar de profundo tédio, rodeado de livros, mas que não correspondia à imagem tradicional do jovem aspirante a intelectual. Aos poucos fui abandonando a minha habitual reserva, e comecei a corresponder aos sorrisos. Em pouco tempo já nos cumprimentávamos. Trocávamos até palavras de circunstância. Um "está calor, hoje", banal, mas tão cheio de significado, neste contexto. Assim se tornaram menos aborrecidas aquelas tardes na esplanada. Parece pouco. Mas é difícil de descrever o quanto me eram penosas aquelas tardes de Verão. Qualquer coisa, pequena que fosse, servia para me animar.
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