27.2.06

A esplanada (III) - Epílogo

[Agnolo Bronzino - Retrato de jovem]

Das tardes passámos para as noites. Dava as minhas voltas costumeiras, mas terminava sempre a noite na esplanada, à espera de que fechasse, para trocarmos mais algumas palavras e sorrisos. Nunca se passou daí. Quero dizer, nunca saímos juntos, nunca fomos beber uns copos a seguir. Apenas trocas de palavras, banais, ali na esplanada. Mas havia ali, parecia-me, uma enorme empatia. Achei que era um potencial novo amigo. Tinha a certeza de que, tendo oportunidade para isso, seríamos grandes amigos. Porquê? Não sei. O facto de ter tornado interessantes aquelas férias era significativo. Mas parecia haver mais qualquer coisa. Entretanto o Verão acabou, e durante algumas semanas não nos voltámos a ver. Confesso que não senti muito a sua falta. Fora do ambiente estival, a minha mente parecia renovada, mais sensível a todos os estímulos. Já me preparava para o retomar das aulas, a minha altura do ano preferida. Até que nos encontrámos, por acaso, num café. Era a oportunidade ideal. Sorrisos, cumprimentos. Sentámo-nos na mesma mesa, um pouco embaraçados por este primeiro encontro fora da esplanada. Conversámos um pouco. Aquela conversa parva de quem não se conhece e não tem assunto. Lentamente a decepção foi-se apoderando de mim. Afinal era uma pessoa banal, desinteressante. Onde estava a empatia que sentira no Verão? Teria mesmo havido alguma empatia mútua? Séria? Afinal ter-me-ia a modorra estival pregado uma valente partida? Quem era este rapaz tão desinteressante que agora falava sem parar à minha frente? Aproveitei a primeira oportunidade para me ir embora. No Verão seguinte voltei à esplanada, como todos os anos, mas os empregados eram já outros.Não nos voltámos a encontrar.

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